Thursday, May 17, 2007

Gesto

“As carícias”, de Fernand Khnopff



Encontrei-te num claustro impreciso, tinhas o travo dos fantasmas ideais e a aparência incestuosa das mãos sádicas do silêncio. Encerrado, movias-te ao som dos melodiosos beijos dum longo e intocável olhar. Aproximei-me.


Esperaste que me debruçasse na janela do teu desejo e sem que emitisses um som, eu ouvía-te rezares, contorcias o corpo como uma mola impulsionada pelo desdém de uma Deusa. Querias e não podias atravessar a muralha inexistente das orientais luzes desse ímpeto esquelético. Já o silêncio vergastava a cor da tua odisseia onírica quando gritaste ao sentires as unhas cravadas na carne opaca da fuga.


Já era novo dia quando regressei e te encontrei baloiçando nas sementes, procuraste sentir o sol triangular que invadia a tua irónica e indecente postura. Chamavas-me e eu não aparecia. As feridas eram demasiado deliciosas para que pretendesses curá-las, um fio de água intermitente aquecia a tua mordaz e cada vez mais quente harmonia.


Chamavas-me, e não me sabias. E continuavas a chamar-me, mas era o deserto das minhas chamas , lanças que te atravessavam os cabelos, o único tesouro que sentias estar perto mas inocentemente inacessível.


MM

4 comments:

DarkViolet said...

Inacessível ao olhar, inacessível ao toque...No meio do nada ouve-se o grito, e nem as garras conseguem perfurar o vazio...Resolvido o pó , oculta-se o ser...

MagnetikMoon said...

O olhar produz toque,mesmo que seja interior.Tudo ganha vida,mesmo o pó,mesmo o vazio.Porque "Nada é Tudo".

Chama Violeta said...

Que tal ouvir um pouco de música?
Te espero em meu blog...
Beijos de luz!

MagnetikMoon said...

Beijos,chama violeta;)