Monday, October 27, 2008

Florbela Espanca


OUTONAL

"Caem as folhas mortas sobre o lago;
Na penumbra outonal,não sei quem tece
As rendas do silêncio...Olha,anoitece!
-Brumas longínquas do País do Vago...

Veludos a ondear...Mistério mago...
Encantamento...A hora que não esquece,
A luz que a pouco e pouco desfalece,
Que lança em mim a benção dum afago...

Outono dos crepúsculos doirados,
De púrpuras, damascos e brocados!
-Vestes a terra inteira de esplendor!

Outono das tardinhas silenciosas,
Das magníficas noites voluptuosas
Em que eu soluço a delirar de amor... "

FLORBELA ESPANCA in "Charneca em Flor"

A minha escolha recai sobre a maior poeta portuguesa, rainha da dor e do Amor, que celebrou durante toda a sua vida dolorida.
Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa em 1894 e faleceu em Matosinhos em 1930.De salientar que muitos moralistas tentaram alterar os seus textos,por um lado por ser Mulher, por outro por celebrar a intensidade em cada palavra.Ainda hoje é a "renegada" ...

"Avec tout ton coeur aime-moi
Car tout mon coeur n'aime que toi
Je ne puis te voir sans émoi
Je t'aime bien plus que ma vie."

. . .

Friday, October 17, 2008

Neutralidade


Caveiras esganiçadas roem o difuso, querendo sublimar o céu do sentido.Ele arrasta-se como ondas de sangue rompido e alcança o muro rasgando a pedra quente da fogueira que se eleva nas estáticas cordas.Onde vai não confessa, de onde vem ?O murmurar das cavernas de outrora,ah como são eficazes na tortura celeste deste veio insensato mas tão impuramente presente!
E rodear a áspera solução era rugido elementar.

Wednesday, October 15, 2008

Em redor


Navegam imprecisas as folhas da multidão que risca, insensata, a permanente saudade e a doce melancolia dos préstimos ousados nos senis bailados de uma só cor.Reage a calma na dobra do lençol rendado do caixão e fura artérias a magnificência curvilínea das avenidas do sentimento.

Monday, October 13, 2008

Nocturno-matutino:do querer


Negros, os fios dos títeres já não seguram mais meu corpo de boneco

nem as hastes das plantas os mares de silêncio

muralhas insidiosas

O silêncio é uma pedra no meu coração
solidão

o leito das lágrimas o alçapão

o poço, a panela,os ossos a arder

as cruzes que se partem junto à pedra da ladeira insana

na lesta frase dos pavimentos escuros, esquecidos

o lete é apenas uma gota no oceano de tantas reminiscências

a orquestra impermanente encanta o luar rosado

espreme dores

e os metais assombram uma sinfonia doida

suspira trai a jaula mecânica

as lentes de um jornal tornam-se sol mudo

e cortam os títulos mortíferos

os chamados transcendem os papéis de uma imaginação sem luz

são a voz inquieta das manhãs que choram

rede pedra arame cimento

e a neblina enchatrca os jornais que tremem de terror

as fotos enrugam de tristeza e sombra

levantam-se janelas, esvoaçam estilhaços no pensamento

deflagram incêndios na rude inclinação do olhar

cacos abraçam as curvas dos pés libertando os fogos do vulcão

interior

transformam frios passos em vozes inquietas que morrem

ao primeiro suspiro e renascem na morte do sabor

das ondas nocturnas isentas de cobertas

quentes chamas ondas desertas

uma grave aleluia de desalento acontecido

os ferros das sepulturas

a tranca das cadeias

são lume impermeável na cândida madrugada

a brasa que incendeia os jornais tristonhos e seus perdidos habitantes

o espasmo, o grito , o incandescer

e levanta ruínas de quimeras distantes

no sofrer amargo do querer

e o querer é uma caixa de música quebrada
com uma bailarina de pernas bambas

ensolarada pela paisagem funerária

das vazias velozes maresias

que um dia a visitaram

e levam consigo os habitantes incendiados dos jornais mais tortos

o querer acabado

o silêncio despedaçado

é a hora da lua que regula a acção

prisioneira de dias sem luz nem salvação

a névoa de um entardecer emadrugado

é a hora de regressar ao sereno morrer

e beber o fel das estações marcadas

os tremores soprados pelo medo do sono impertinente

estancar aves feridas na sola do tacão dos títulos

massacrados pelo imprevisível embaciar do regresso

o limiar espera os passaportes extraviados de uma noite sem sentido

para sobrepor os silêncios aos títulos enforcados

na ilha das facas despedaçando corpos inanimados

na leveza

dos copos extraviados do viver

lanças doces de prazer extraviado no sofrer calado do querer

a música da caixa imaginada gira nas pernas bambas da bailarina
machucada
e se desfaz na neblina, nos jornais,nos habitantes afogados na praia
dos sem destino

e canta a catarata da neblina o primeiro olhar

sem sequer se atrever a tocar o frio indecente da lâmina

a lâmina fecha o mar nas cadeias dos copos do embriagar

e a ferida retoma o curso das infernais águas

a lamber o peito do mar vermelho

o cajado de um patriarca se derrete como uma estátua de sal no meio

do mar tremido

num naufragar de desdém a querer rodopiar o ontem no amanhã

pirâmides de espelhos que dançam num leve espreguiçar-se do hoje
incompreendido

são a face reluzente das frias sepulturas de marfim

e entoam melodias frementes que rasgam os nús

da saudade

corpos leves deitam-se nas camas de aço e esperam seu interminável
mumificar-se

na espera rasgada incendiada

numa palavra incompreensível

o calar-se se esconde nas dobras das águas que se fecham sobre os

corpos dos incautos

ilumina sem querer o túnel dos males insensatos

e fecha a cortina às telas partidas




*Poema elaborado por mim ( texto red ) e pelo amigo Alisson (texto cinza).

Prémio Dardos


O amigo mr.lynch ,
que ilumina a blogosfera com os retratos que ,às vezes ,as palavras não oferecem(complementando-as,assim) legou ao TEMPLO o prémio literário digital "Prémio Dardos".Não sou muito destas coisas mas desde já agradeço-lhe sinceramente pois será,de certa forma, mais um incentivo para a evolução deste meu espaço.

O que é o "Prémio Dardos":

"
Com o Prêmio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro mostra cada dia em seu empenho por transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, que de alguma forma demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras.

O Prêmio Dardos tem certas regras:

1. Aceitar exibir a distinta imagem (que está ao lado direito desta tela).

2. Linkar o blog do qual recebeu o prêmio.

3. Escolher quinze 15 blogs para entregar o "Prêmio Dardos. "


Aqui deixo então a lista daqueles 15 que poderiam ser outros 15,(não é nada fácil a tarefa):

Esboços de Nús
,de DarkViolet

Canto Adormecido
, de DarkViolet

The Second Dream Of The High-Tension Line Stepdown Transformer , de Mr.Lynch

O Profeta
, de O Profeta

Ein Jeder Engel Ist Schrecklich
, de Alisson da Hora

Etterna Tanay
, de Atanaykara Sango

Voices from the grave
,de Scorpshine

Palavras Silenciosas
, de Dark-Me

Energias Alternativas
,de JGuerra

Rato de Biblioteca
, de Rato de Biblioteca

Goth Land & Lucifer's Kingdom
, de Lord of Erewhon

Crónicas da Peste , de Klatuu o Embuçado

Chama Violeta
, de Chama Violeta

Acqua , de Acqua

A vida não vale um conto , de Marcia Barbieri

Friday, October 10, 2008

No lago




R No fundo do lago

Os proscritos e os enjeitados

Rasgam manuscriptos

Sangram realezas

Vasos e oferendas são luxos insanos

Não se encontram os diabos

A luz meia ofuscada treme na chama

Os proscritos avançam e matam

Chacina na permanência o ócio

De séculos de escravidão

Dá a mão à escuridão , pois o tempo feroz que há-de vir encadeia-se nas Almas límpidas .O último esforço é ténue e satisfaz os homens, não os Imortais.

Praias obscuras como as conhecem os proscritos na sua marcha irreprimível, na candura abrasadora de uma tortura inconformada; os teus desígnios são pó que se acumula no móvel que escolhi há mais de quatrocentos anos, e até hoje não conheceste o meu nome.

Hás-de gritar pela minha fome e conhecer o pesar que agora se arroja líquido de caules milenares na parede dos lençóis vermelhos. Não! Não lhes toques…

E seguem

Os proscritos

A marcha entérica

Das águas fixas









Wednesday, October 8, 2008

A quatro mãos


a mão de um silêncio que emana segredos
a mão de um silêncio que emana vapores...
serpenteia o fundo olhar de um suicida,
lastimando a crua realeza
mastigando serpentes
o suicida que teceu cordas com suas veias
e uma escada com seus tendões
tentando abraçar as portadas de um céu
enlaçando artérias escuras e oleosas no desdém do futuro
estrondoso relampejar de serenas tempestades
e o futuro agora é um inferno presenteado nos mármores ensanguentados
olha-me e segreda-me o céu das tuas mãos
celebração incontida na sombra lilás do meu olhar
e o olhar é um prisma sobre a estrada futura que se parte
exacta medida de veneno a esticar luxuriosas mangas
de luz repartida
a luz reprimida de um sol sem sombras
num pavimento estrelado o abismo o portão
ondeia lajes cavernosas e cadavéricas
onde a semente
entrega à água
o suave sentido do seu nascer
o lusco-fusco repatriado
a manga justa do casaco desapertado
ensanguentado
a retalhar frutos com as garras com as sedas o amanhecer
que recai nos ombros do suicida perdido nos umbrais do seu ser
o suor repara a ferida e a ferida retorna ao mar
cujo sal pensa a ferida até cicatrizá-la
cauterizando o luar permanente das sombras
no eco impreciso de mãos que pensam
tudo pensa ao redor, menos as mãos do suicida
que caem no mármore
silenciosas
e beijam o espaço vazio do casaco
no esqueleto trancinado das marés...


*Este poema foi escrito a quatro mãos por mim(texto red) e pelo Alisson (texto branco)
do Ein jeder Engel ist schrecklich .
Ao amigo da terra mais portuguesa do Brasil deixo o meu agradecimento e um abraço forte de re-encontro.

a

Sunday, October 5, 2008

Interiores


Vaporiza indecentemente a semente
em esgares orgiásticos,
dá a provar ao faminto a seiva inquietante
relógio difuso de almas inquietas
dá-lhe solução
no frio,nos aromas

Compõe arestas
curtas-metragens
ou filmes clássicos
sem bordões nem botões
que possam ser
arrancados
no fulgor
letal
da tua pele
sempre
inclinada


E remexe a terra
com as unhas
cravadas
num sonho de terror
manto acolhedor de espinhos
respirados
no ataúde preso às (h)eras