Monday, October 13, 2008

Nocturno-matutino:do querer


Negros, os fios dos títeres já não seguram mais meu corpo de boneco

nem as hastes das plantas os mares de silêncio

muralhas insidiosas

O silêncio é uma pedra no meu coração
solidão

o leito das lágrimas o alçapão

o poço, a panela,os ossos a arder

as cruzes que se partem junto à pedra da ladeira insana

na lesta frase dos pavimentos escuros, esquecidos

o lete é apenas uma gota no oceano de tantas reminiscências

a orquestra impermanente encanta o luar rosado

espreme dores

e os metais assombram uma sinfonia doida

suspira trai a jaula mecânica

as lentes de um jornal tornam-se sol mudo

e cortam os títulos mortíferos

os chamados transcendem os papéis de uma imaginação sem luz

são a voz inquieta das manhãs que choram

rede pedra arame cimento

e a neblina enchatrca os jornais que tremem de terror

as fotos enrugam de tristeza e sombra

levantam-se janelas, esvoaçam estilhaços no pensamento

deflagram incêndios na rude inclinação do olhar

cacos abraçam as curvas dos pés libertando os fogos do vulcão

interior

transformam frios passos em vozes inquietas que morrem

ao primeiro suspiro e renascem na morte do sabor

das ondas nocturnas isentas de cobertas

quentes chamas ondas desertas

uma grave aleluia de desalento acontecido

os ferros das sepulturas

a tranca das cadeias

são lume impermeável na cândida madrugada

a brasa que incendeia os jornais tristonhos e seus perdidos habitantes

o espasmo, o grito , o incandescer

e levanta ruínas de quimeras distantes

no sofrer amargo do querer

e o querer é uma caixa de música quebrada
com uma bailarina de pernas bambas

ensolarada pela paisagem funerária

das vazias velozes maresias

que um dia a visitaram

e levam consigo os habitantes incendiados dos jornais mais tortos

o querer acabado

o silêncio despedaçado

é a hora da lua que regula a acção

prisioneira de dias sem luz nem salvação

a névoa de um entardecer emadrugado

é a hora de regressar ao sereno morrer

e beber o fel das estações marcadas

os tremores soprados pelo medo do sono impertinente

estancar aves feridas na sola do tacão dos títulos

massacrados pelo imprevisível embaciar do regresso

o limiar espera os passaportes extraviados de uma noite sem sentido

para sobrepor os silêncios aos títulos enforcados

na ilha das facas despedaçando corpos inanimados

na leveza

dos copos extraviados do viver

lanças doces de prazer extraviado no sofrer calado do querer

a música da caixa imaginada gira nas pernas bambas da bailarina
machucada
e se desfaz na neblina, nos jornais,nos habitantes afogados na praia
dos sem destino

e canta a catarata da neblina o primeiro olhar

sem sequer se atrever a tocar o frio indecente da lâmina

a lâmina fecha o mar nas cadeias dos copos do embriagar

e a ferida retoma o curso das infernais águas

a lamber o peito do mar vermelho

o cajado de um patriarca se derrete como uma estátua de sal no meio

do mar tremido

num naufragar de desdém a querer rodopiar o ontem no amanhã

pirâmides de espelhos que dançam num leve espreguiçar-se do hoje
incompreendido

são a face reluzente das frias sepulturas de marfim

e entoam melodias frementes que rasgam os nús

da saudade

corpos leves deitam-se nas camas de aço e esperam seu interminável
mumificar-se

na espera rasgada incendiada

numa palavra incompreensível

o calar-se se esconde nas dobras das águas que se fecham sobre os

corpos dos incautos

ilumina sem querer o túnel dos males insensatos

e fecha a cortina às telas partidas




*Poema elaborado por mim ( texto red ) e pelo amigo Alisson (texto cinza).

12 comments:

Alisson da Hora said...

O que uma insônia e uma luta contra o sono não faz?As cenas brotam como água de uma pedra pura, mas quase inexpugnável...a pedra do sentir, a pedra do viver dos ermitões, a pedra da loucura sempre difícil de ser extraída...

adoro-te

Blood Tears said...

os estilhaços de pensamento que desfloram o olhar no frémito do desejo, na solidão....

Blood Kisses

bat_thrash said...

Nossa quanta lucidez encerra esse teu poema!
Somos a máscara entre a dor e o riso procurando o equilíbrio entre valores extremos. A sociedade é uma mídia de valores, somos o target deste nisho social. Há quem procure autenticidade ou não para uma platéia que pode ser o nosso próprio eu, ou quiçá o alheio.
Bat Kiss.

MagnetikMoon said...

alisson:
É verdade:)ich auch;)

bloodtears:
É o olhar daqueles que ousam cruzar fronteiras ténues.

bat_trash:
Este poema não é todo meu:)Sem dúvida q a sociedade tenta imprimir o seu cunho nos pensamentos e atitudes, mas eu não me deixo levar hehehehe

Magnetikiss;)

Gittana said...

Gracias por mi premiooooo!!!!! gracias, gracias!!!! ya lo puse!!!!!

DarkViolet said...

A palavra brota com o fogo do silêncio..Acumula-se nas paredes orvalhando a trovoada, regando sulcos de escuridão e luz... o espelho do acolhimento

MagnetikMoon said...

gittana:
Te lo merezces:)

Magnetikiss;)

MagnetikMoon said...

darkviolet:
Serpenteia escondida nos pântanos da melodia e segreda-se a si mesma.

Magnetikiss;))

Mr. Lynch said...

Magnetikmoon;
Tu e o Alisson estão de parabéns.
Um post perfeito: palavras extraordinárias iluminadas por uma imagem perfeita.
5 stars
*s

MagnetikMoon said...

mr.lynch:
Ainda bem q gostaste desta nossa partilha:)

Magnetikiss;)

Blood Tears said...

Já vi que acabaste de receber o prémio dardos, mas eu adoro ler-te.... lol

Deixei-te uma lembrança lá no meu templo. Vénia.

Blood Kisses

MagnetikMoon said...

bloodtears:
Obgda pelo recuerdo:))

Magnetikiss;)